Com o objetivo de aprofundar a abordagem do tema do Projeto Institucional, as turmas F9 se dedicaram a refletir sobre as ocupações das escolas, ocorridas em diversos llugares do Brasil em 2015 e 2016. Leram fragmentos do ensaio “Escola-corredor: uma Poética da Ocupação”, escrito em parceria por Isabella Dias, aluna do Colégio Pedro II, e Luiz Guilherme Barbosa, professor da Unidade Realengo. Para se inteirar da leitura, os alunos pesquisaram sobre as reivindicações dos estudantes; precisaram também exercitar outro ponto de vista acerca de estar na escola e dos modos de ocupá-la. Qual o papel dos alunos na manutenção do bom funcionamento da escola? Quais são os desafios e aprendizados da autogestão? Outra questão importante suscitada pela leitura foi a diversidade de saberes extracurriculares que os alunos adquirem no espaço escolar: nos corredores, no pátio e em outros espaços de convivência.
Nossos estudantes tiveram como tarefa escrever um texto relatando "saberes de corredor", fundamentais em suas formações como sujeitos.
Essa reflexão feita pelas F9, turmas que completam o ciclo do fundamental neste ano, teve como horizonte a imagem da utopia, palavra empregada durante as ocupações de 2016 para nomear o fazer dos estudantes. Seu significado desconhecido nos fez caminhar e entender a necessidade de seguir caminhando em direção a uma vida comunitária melhor, fazendo caber cada vez mais pessoas em nossa coletividade.
(Professora Heleine Fernandes)
Já Pra Fora
Ragnar Av Asgard
Fora da sala de aula já vivi muitas coisas nas quais estava envolvido e, em outras, era só observador que tinha pego o bonde andando. Mas acabo sempre aprendendo algo com elas, como conhecer novos jogos ou aprender novas estratégias nos que eu já jogo.
Além de trocar ideias com pessoas da turma, fora da sala aprendi a fazer amizades com pessoas de outras turmas, como em 2016 quando eu jogava três cortes com a Maria Luiza da F9 e agora, em 2019, conversando na biblioteca com o Eric da F7. Até com as pessoas da turma que geralmente não converso consigo me conectar, como quando jogo G-Switch com o Nino. Essas interações me ajudaram a deixar de ser tão introvertido e ser mais participativo nas coisas dentro e forea da sala.
Já me senti frustrado, feliz, triste (às vezes quase que ao mesmo tempo, como o Vô Vicêncio) com cenas que vi, com piadas que ouvi, com conversas que já tive com amigos sobre assuntos como namoro, jogos, aulas... Assim pude experimentar diferentes sensações que estavam presas na garganta ou outras das quais nunca tinha sentido em mim.
Dos eventos que acontecem na escola, para mim, o Sarau é o melhor, pois é nele que reunimos a escola quase toda, reencontramos professores antigos (como a Pâmela), bateristas da F6 (Gabriel Kalil) e da F9M (Vítor), unidos em uma sensação de igualdade, um aprendizado descontraído (para mim, uma das melhores formas de se aprender algo).
Depois disso fico pensando que cinco tempos (totalizando mais de 4 horas) dentro da sala não parecem nada perto de 45 minutos fora da sala para aprendermos algo. Creio que se não existissem os corredores, pátios, seríamos mais robotizados do que já estamos nos tornando.
(Ragnar Av Asgard)
Sem Título
Carolina Roth
Após ler o texto “escola corredor”, percebi que apesar de achar que não, aprendi, sim, coisas levantes fora da sala de aula.
A primeira coisa que me veio na cabeça foi aprender a dar um jeitinho de esconder que não estou com a blusa da escola, ou que ela está cortada. Nesse pacote também vêm as “bebidas de água” que levaram mais de cinco minutos, pois eram programadas estrategicamente de na hora que a turma do outro lado do corredor estava saindo da sala para fazer alguma coisa. Isso tudo sem ser pega no flagra, é claro. Outra coisa que percebi no próprio corredor foi que eu não tenho a capacidade de sair para beber água ou ir no banheiro sem cantar alguma coisa . Agora eu tendo cantar mais baixo, pois garanto que foram mais de duas vezes que algum professor abriu a porta para reclamar.
Falando sobre os recreios, posso dizer que aprendo mais futebol no Pereirão do que na educação física e mais dança no salão do que nos 12 meses de aula de dança fora da escola. Além disso, aprendi a lidar com meninos que não me deixavam jogar igualmente a eles no Pereirão.
Enfim, com certeza devo ter aprendido e ainda vou aprender muito mais do que coloquei aqui durante esses dez anos de Sá Pereira, que vão se fechar nesse ano.
(Carolina Roth)
Escola Viva
Charlotte Castro
Aprendemos muito na escola. Uma das fases mais importantes e marcantes das nossas vidas é quando vamos à escola. Mas o que muitos não percebem é que aprendemos muito mais lá além das matérias do currículo obrigatório.
Conhecemos pessoas diferentes, de famílias diferentes. Nos relacionamos com todos os tipos de funcionários da escola, sejam secretários, professores, coordenadores, funcionários de limpeza, cozinheiros, inspetores, auxiliares...
Faz parte do dia a dia chegar na escola com a Queddiene e a Cris porta, dar um beijo de bom dia nelas. Desviar de todos os alunos menores encontrar minhas amigas no pátio, e conversar até tocar o sino para subir para a aula. Encontrar alguns professores no caminho da sala, esbarrar em alunos de outras séries. Quando temos aula de matemática com o André, é normalidade chegar na sala com uma música engraçada tocando com piadas tão sem graça que se tornam hilárias.
No recreio e no lanche temos oportunidades valiosas de conversar livremente sobre banalidades. Jogar bola com o André ou a Jade, com quem aprendemos posições melhores para dar manchetes de vôlei ou chutes da altinha. Receber dicas da Qued sobre tratamentos de cabelo e meninos, levar bronca porque não pode chutar a bola de vôlei, chutar a bola de vôlei só de raiva, e ter a bola de vôlei confiscada pela Queddiene (droga).
Até mesmo nas aulas podemos desviar um pouco da matéria e aprender com o André sobre como os amendoins são transportados, e como se faz a paçoca: eles vem um caminhão, com uma lona em cima para não cair nada dentro. O fundo tem muita umidade, então os amendoins que ficam no fundo são propícios ao desenvolvimento de fungos, e para não ter que os descartar, usam-nos para fazer paçoca (pensamento capitalista).
Ouvir do Henrique sobre o dia que o lixo dele ficou tão cheio de larvas que elas subiam pelas paredes e ele pegou um spray e desinfetou a cozinha inteira. Nesse dia aprendi dicas de como lidar com uma infestação.
Ou quando ele viajou para os vulcões do Havaí e aprendeu mais sobre a rotina de erupções e sobre como o povo que mora perto age nessas situações.
Ouvir as poesias da Jade Prata, que ela recita com muito carinho.
Eu lembro do primeiro dia de aula com o Quincas, em que ele deu vários documentos pessoais para descobrirmos o máximo de informações sobre ele (e como descobrimos). Lembro quando a Pamela viu meu casaco de “Wicked” (um musical que eu amo muito) e disse que amava também. Fiquei realizada naquele dia. Também fiquei no dia em que eu e a Luisa nos apresentamos no sarau com ela. Para mim esse foi um momento de muito aprendizado.
E além de todos esses momentos, aprendi muito com os alunos também. Tanto coisas “novas” passageiras, quanto coisas muito construtivas também (e “bobo” pode ser construtivo). Fofocas, experiências, histórias, descobertas. Aprendo a me relacionar com os outros, tentar entender as diferenças, dialogar. A minha turma é muito importante para mim. Por mais que eu não tenha afinidade com todo mundo, todos têm um certo espaço na minha memória, e talvez até no meu coração.
Passamos por muito juntos desde o 1º dia. Entrou gente, saiu gente. Brigamos, rimos. E mais importante, crescemos, por dentro e por fora.
É, acho que a escola se sustenta pelas experiências fora do currículo. Se elas não existissem , não haveria escola, pois justo essas relações são o que trazem vida, tanto aos funcionários que vão trabalhar, quanto aos alunos, que vão estudar.
(Charlotte Castro)